Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

sábado, 19 de dezembro de 2009

Afinal, o que acontece aqui?





"Pergunta: Aqui, apesar de tudo, algo acontece. Algo é transmitido com palavras ou sem palavras. Algo gruda e permanece.

Karl: Por um pouco desaparece o escudo defensor - o filtro de suas representações. Só ha não-conhecimento. Heis voce nu, sem definições sobre voce mesmo e essa nudez permanece, se realiza. Nela não pode subsistir nenhuma ideia, porque será levada pelas palavras. Esse não-conhecimento apaga suas representações, pelo menos por um pouco, até que voltem. E depois de algum tempo pode acontecer de voce reconhecer as ideias pelo que elas são, somente ideias.

P: E esse reconhecimento, serve para algo?

K: Não, se aquele que reconhece permanece.

P: Certamente, quem reconhece sou eu - sou eu que queria que servisse para algo.

K: Contra isso não tem nada a fazer. Aquele que reconhece cairá somente quando ele tiver que cair. Isso é chamado de graça. Vai cair com um pequeno "Ah!" no dar-se conta que nunca aconteceu nada para aquilo que voce é verdadeiramente.

P: Nunca aconteceu nada? Apesar disso, nudez não significa tambem vulnerabilidade?

K: Sim, se não ha mais o escudo defensor. Conhecer-se significa ser completamente vulneraveis, indefesos. Voce participa a tudo aquilo que aflora em sua percepção. Não pode dizer não para nada. Você é completamente aquilo que voce observa. É totalmente o objeto de sua percepção. A percepção e o objeto da percepção não são mais separados.

P: Parece-me algo esmagador.

K: Muitos que experimentam isso, não sabendo o que isso signifique, acabam no hospicio. Não ha mais o filtro chamado de "eu" e todas as informações do mundo externo chegam sem filtros, como um rio em cheia. Aqui a gente fala sobre isso caso aconteça, assim que ninguem pire.

P: Ou para que, pelo menos, saibamos a razão do nosso pirar.

K: Posso somente apontar para como seja estupido se defender disso. No interior do escudo defensor (o pensamento "eu") ha o conceito de que exista algo a mais do que voce, alguem para o qual algo possa acontecer. Agora, aquilo que voce é não tem segundo. E tudo aquilo com o qual voce entra em contato, tudo aquilo que voce experimenta, é voce mesmo. Esse é o conhecimento de sí.

P: E é somente o escudo defensor que impede isso?

K: Esse escudo eu não posso tirar de voce. Se eu pudesse fazer isso, significaria que ha algo de anormal em voce. Mas não ha nada de anormal em ter um escudo, tem sua razão de ser. Um dia ou outro vai cair por sí mesmo, no mais tardar no momento da morte. Mesmo agora ele poderia cair, então voce veria que não serve para nada resistir.

P: As vezes eu vejo isso.

K: Por exemplo, quando voce se apaixona. Voce não pode decidir se voce se apaixona ou não se apaixona, simplesmente acontece e você estã sem defesas. O sentimento de apaixonamento total e aquele de estar indefeso é seu estado natural.

P: Esse, porem, é um estado que eu posso experimentar claramente.

K: E se assim tem que ser, poderá expermineta-lo não em modo relativo, mas absoluto. Isso significa que não ha mais ninguem que experimenta um estado, ninguem poderia aguenta-lo. Esse sentimento que tudo aflui em voce na experiencia e em seu mundo emocional, não é suportavel para um "eu". Para o Ser, porem, é totalmente natural.

P: Parace que isso requer um esforço.

K: Quando a graça aflora, verifica-se o vazio em que a pessoa não pode subsistir. Com a Consciencia, aflora o fogo do inferno em que o pequeno eu não pode existir.

P: Voce disse fogo do inferno?!

K: Pode chama-la de graça ou de fogo do inferno. Ninguem pode impedi-lo ou apressa-lo. A graça é um misterio e age em uma esfera mistica. In-condicional e incontrolavel.

P: Todavia em satsang a Presença pode fazer surgir isso, não é?

K: Ou então não. A Presença não é uma condição e nem o satsang: não ha condições. Sempre ha a possibilidade.

P: Dou-me conta de que quando participo com mais frequencia ao Satsang, tenho problemas com o sono.

K: Outros consideram-me um sonifero. Mas se assim tem que ser, que graças a insonia voce possa saber quem voce é - e voce e a propria insonia - então assim vai acontecer. Aquilo que voce é não dorme e nem faz vigilia. Sono e vigilia aparecem como estados. Mas aquilo que voce é nao conhece sono. "Awareness" em ingles é uma vigilia que não dorme nunca e que existe tambem no sono profundo. Vigilie, fique insomne- se assim tem que ser e esse é o seu caminho, isso é fantastico!

P: Mas me dá dor de cabeça...

K: Porque voce deveria se sair melhor que eu? Cinco anos de emicranias, sempre afundando naquele trovão de luz e somente raramente sair disso. Quando a energia explode, isso pode acontecer.

P: Isso parece bem sedutor.

K: Insonia, descargas eletricas, a cabeça como um sino que toca forte, imagens de circo equestre, tempestades, dores.... conheço isso. Isso é o fogo do inferno. O mundo conceitual é arrancado, o corpo fica no moedor de carne. Tudo tem que desaparecer. A inteligencia absoluta desperta em voce e a energia não pode cochilar. Por causa das aparições de luz, chamaram-na de iluminação. Materia e anti-materia fundem-se e depois são percebiveis. Ha reações nucleares como sobre o sol. Voce é um reator nuclear!

P: Antes eu era contra a força atomica.

K: E agora pode ficar tranquilo porque sabe o que esses sintomas significam.
São somente efeitos secundarios.
A paz e o silencio estão sempre presentes.
O silencio é a fonte....."


Dialogos com Karl Renz

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