Era uma destas manhãs, talvez uma segunda-feira, quando havia apenas poucos de nós, os “viciados” regulares. Maharaj sentou-se com seus olhos fechados, imóvel como uma estátua. Depois de algum tempo, repentinamente, começou a falar suavemente, tão suavemente que, de forma inconsciente, aproximamo-nos dele. Ele continuou sentado e com os olhos fechados, e prosseguiu falando, ou melhor, pensando alto: As pessoas pensam que eu sou um Jnani. Vêm a mim de todas as partes do mundo – do Canadá à Austrália e Nova Zelândia, da Inglaterra ao Japão. A maioria leu Eu Sou Aquilo e viaja até Bombaim para encontrar-se comigo. Com grande dificuldade, localizam minha pequena e velha casa em uma rua estreita e suja. Sobem as escadas e encontram um pequeno homem moreno vestindo a mais simples das roupas, sentado em um canto. Eles pensam: Este homem não parece um Jnani; não se veste de modo a chamar a atenção como poderia ser esperado de alguém tão conhecido quanto Nisargadatta Maharaj. Será realmente um Jnani?
O que posso dizer a estas pessoas? Eu lhes falo francamente que minha educação é de um nível que apenas pode colocar-me na categoria de alfabetizado; não li nenhuma das grandes escrituras tradicionais e a única língua que conheço é meu Marathi nativo. E a única investigação em que insisto, mas insisto nela incansavelmente – como um caçador perseguindo sua caça –, é esta: ‘eu sei que eu sou e tenho um corpo. Como isto poderia acontecer sem meu conhecimento e aquiescência? E o que é este conhecimento eu sou?’ Esta tem sido minha busca de toda a vida e estou plenamente satisfeito com as respostas que obtive. Este é meu único Jnana, mas as pessoas acreditam que sou um Jnani. Meu Guru me falou: “Você é Brahman, você é tudo e todas as coisas. Não há nada exceto você”. Eu aceitei as palavras de meu Guru como verdade, e agora, por quarenta estranhos anos, tenho estado sentado nesta sala, nada fazendo senão falar sobre isto. Por que as pessoas vêm a mim de terras distantes? Que milagre!
Depois de insistir em minha busca de conclusões lógicas, a que cheguei? Toda coisa é realmente simples se o quadro for claramente visto. Que é este ‘eu’ em que estou interessado? A resposta imediata, certamente, é – ‘este eu, este corpo’. Mas em seguida se vê que o corpo é apenas um aparato psicossomático. Qual o mais importante elemento neste aparato que o qualifica para ser conhecido como um ser sensível? É, indubitavelmente, a consciência sem a qual este aparato, embora talvez tecnicamente vivo, será inútil até que seu funcionamento esteja a ela relacionado. Esta consciência necessita, obviamente, de uma estrutura física na qual manifestar-se. Assim, a consciência depende do corpo. Mas de que é feito o corpo? Como veio à existência? O corpo é apenas algo que cresce no útero da mulher durante um período de aproximadamente nove meses, o crescimento do que foi concebido pela união dos fluidos sexuais masculinos e femininos. Estes fluidos são a essência do alimento consumido pelos pais. Basicamente, portanto, a consciência e o corpo são feitos e sustentados pelo alimento. De fato, o próprio corpo é alimento – um corpo pode ser alimento para outro corpo. Quando a essência do alimento, os fluidos sexuais vitais, começa a crescer desde a concepção até um minúsculo corpo e surge do útero da mãe, isto é chamado ‘nascimento’. E, quando esta essência do alimento decai devido à idade ou à doença e o aparato psicossomático é destruído, a isto chamamos ‘morte’. Isto é o que acontece o tempo todo – o universo objetivo projetando e dissolvendo inumeráveis formas; o quadro continua mudando todo o tempo. Mas como estou relacionado com isto? Sou meramente a testemunha de tudo o que está acontecendo. O que quer que aconteça durante o período do fato, em cada caso, afeta apenas o aparato psicossomático, não o ‘Eu’ que sou.
Esta é a extensão do meu ‘conhecimento’, basicamente. Uma vez que esteja claro que tudo o que acontece no mundo manifestado é algo separado de mim, como o ‘Eu’, todos os demais problemas se resolvem.
Exatamente em que momento eu tive o conhecimento de minha ‘existência’? O que eu era antes que este conhecimento ‘eu sou’ surgisse em mim? Este conhecimento sempre esteve comigo desde que eu posso me lembrar, talvez depois de alguns meses após o nascimento do corpo. Portanto, a própria memória deve ter vindo com este conhecimento ‘eu sou’, esta consciência. Qual era o estado antes disto? A resposta é: eu não sei. Então, tudo o que sei de qualquer coisa teve seu início na consciência, incluindo a dor e o prazer, dia e noite, acordar e dormir – de fato, a gama inteira de dualidades e opostos na qual um não pode existir sem o outro. Novamente, qual era o estado de antes da consciência ter surgido? Estes opostos inter-relacionados inevitavelmente devem ter existido, mas apenas na negação, na unicidade, na totalidade. Esta deve, então, ser a resposta. Esta unicidade é o que Eu sou. Mas esta unicidade, esta identidade, esta totalidade não pode conhecer a si mesma porque nela não existe nenhum sujeito separado de um objeto – uma condição que existirá necessariamente para o processo da visão, do conhecimento ou do entendimento. Em outras palavras, no estado original de unicidade, ou totalidade, não existe nenhum meio ou instrumento através do qual possa ter lugar o ‘conhecimento’.
A mente não pode ser usada para transcender a si mesma. O olho não pode ver a si mesmo; o gosto não pode provar a si mesmo; o som não pode ouvir a si mesmo. O ‘fenômeno’ não pode ser ‘fenômeno’ sem o ‘númeno’. O limite da concepção possível – a abstração da mente – é o númeno, a infinidade do desconhecido. O númeno, o sujeito único, objetifica a si mesmo e percebe o universo, manifestando-se fenomenalmente dentro de si mesmo, mas aparentemente do lado de fora, para ser um objeto perceptível. Para que o númeno se manifeste objetivamente como um universo fenomênico, o conceito de espaço-tempo entra em operação porque os objetos, para serem reconhecíveis, deverão estar estendidos no espaço para adquirirem volume, e deverão estar esticados em duração ou tempo, pois de outra forma não poderiam ser percebidos.
Deste modo, agora tenho todo o quadro: O ser sensível é apenas uma pequena parte dentro do processo da aparente reflexão do númeno dentro do universo fenomênico. Ele é apenas um objeto na objetivação total e, como tal, ‘nós’ não podemos ter nenhuma natureza própria. E, ainda assim – e isto é importante – os fenômenos não são coisas criadas separadamente ou mesmo projetadas, mas são de fato o númeno concebido, ou objetivado. Em outras palavras, a diferença é puramente imaginária. Sem o conceito, são sempre inseparáveis, e não há nenhuma dualidade entre númeno e fenômeno.
Esta identidade – esta inseparabilidade – é a chave para o entendimento, ou melhor, o apercebimento de nossa natureza verdadeira porque, se esta unidade básica entre o númeno e o fenômeno for perdida de vista, iríamos ficar atolados em um pântano de objetivação e de conceitos. Uma vez que se entenda que o númeno é tudo que nós somos e que o fenômeno é o que parecemos ser como objetos separados, será também entendido que nenhuma entidade poderia ser envolvida no que nós somos e, portanto, o conceito de uma entidade que necessita de ‘liberação’ não teria sentido; e a ‘liberação’, se houver alguma, será vista como a liberação do próprio conceito de escravidão e liberação.
Quando eu penso sobre o que Eu era antes de ‘nascer’, sei que este conceito de ‘eu sou’ não estava lá. Na ausência da consciência, não há concepção; e tudo o que acontece na visão não é o que alguém – uma entidade – vê como um sujeito/objeto, mas visto de dentro, da fonte de toda visão. E, então, através deste ‘despertar’, compreendo que a todo-envolvente totalidade do Absoluto não pode ter mesmo um toque de imperfeição relativa; e assim devo, relativamente, viver o tempo de vida designado até o seu fim, até que este ‘conhecimento’ relativo se funda no estado de “não-conhecimento” do Absoluto. Esta condição temporária de ‘eu sei’ e ‘eu sei que sei’ funde-se então neste estado eterno de ‘Eu não sei’ e ‘Eu não sei’ que ‘Eu não sei’.
O que posso dizer a estas pessoas? Eu lhes falo francamente que minha educação é de um nível que apenas pode colocar-me na categoria de alfabetizado; não li nenhuma das grandes escrituras tradicionais e a única língua que conheço é meu Marathi nativo. E a única investigação em que insisto, mas insisto nela incansavelmente – como um caçador perseguindo sua caça –, é esta: ‘eu sei que eu sou e tenho um corpo. Como isto poderia acontecer sem meu conhecimento e aquiescência? E o que é este conhecimento eu sou?’ Esta tem sido minha busca de toda a vida e estou plenamente satisfeito com as respostas que obtive. Este é meu único Jnana, mas as pessoas acreditam que sou um Jnani. Meu Guru me falou: “Você é Brahman, você é tudo e todas as coisas. Não há nada exceto você”. Eu aceitei as palavras de meu Guru como verdade, e agora, por quarenta estranhos anos, tenho estado sentado nesta sala, nada fazendo senão falar sobre isto. Por que as pessoas vêm a mim de terras distantes? Que milagre!
Depois de insistir em minha busca de conclusões lógicas, a que cheguei? Toda coisa é realmente simples se o quadro for claramente visto. Que é este ‘eu’ em que estou interessado? A resposta imediata, certamente, é – ‘este eu, este corpo’. Mas em seguida se vê que o corpo é apenas um aparato psicossomático. Qual o mais importante elemento neste aparato que o qualifica para ser conhecido como um ser sensível? É, indubitavelmente, a consciência sem a qual este aparato, embora talvez tecnicamente vivo, será inútil até que seu funcionamento esteja a ela relacionado. Esta consciência necessita, obviamente, de uma estrutura física na qual manifestar-se. Assim, a consciência depende do corpo. Mas de que é feito o corpo? Como veio à existência? O corpo é apenas algo que cresce no útero da mulher durante um período de aproximadamente nove meses, o crescimento do que foi concebido pela união dos fluidos sexuais masculinos e femininos. Estes fluidos são a essência do alimento consumido pelos pais. Basicamente, portanto, a consciência e o corpo são feitos e sustentados pelo alimento. De fato, o próprio corpo é alimento – um corpo pode ser alimento para outro corpo. Quando a essência do alimento, os fluidos sexuais vitais, começa a crescer desde a concepção até um minúsculo corpo e surge do útero da mãe, isto é chamado ‘nascimento’. E, quando esta essência do alimento decai devido à idade ou à doença e o aparato psicossomático é destruído, a isto chamamos ‘morte’. Isto é o que acontece o tempo todo – o universo objetivo projetando e dissolvendo inumeráveis formas; o quadro continua mudando todo o tempo. Mas como estou relacionado com isto? Sou meramente a testemunha de tudo o que está acontecendo. O que quer que aconteça durante o período do fato, em cada caso, afeta apenas o aparato psicossomático, não o ‘Eu’ que sou.
Esta é a extensão do meu ‘conhecimento’, basicamente. Uma vez que esteja claro que tudo o que acontece no mundo manifestado é algo separado de mim, como o ‘Eu’, todos os demais problemas se resolvem.
Exatamente em que momento eu tive o conhecimento de minha ‘existência’? O que eu era antes que este conhecimento ‘eu sou’ surgisse em mim? Este conhecimento sempre esteve comigo desde que eu posso me lembrar, talvez depois de alguns meses após o nascimento do corpo. Portanto, a própria memória deve ter vindo com este conhecimento ‘eu sou’, esta consciência. Qual era o estado antes disto? A resposta é: eu não sei. Então, tudo o que sei de qualquer coisa teve seu início na consciência, incluindo a dor e o prazer, dia e noite, acordar e dormir – de fato, a gama inteira de dualidades e opostos na qual um não pode existir sem o outro. Novamente, qual era o estado de antes da consciência ter surgido? Estes opostos inter-relacionados inevitavelmente devem ter existido, mas apenas na negação, na unicidade, na totalidade. Esta deve, então, ser a resposta. Esta unicidade é o que Eu sou. Mas esta unicidade, esta identidade, esta totalidade não pode conhecer a si mesma porque nela não existe nenhum sujeito separado de um objeto – uma condição que existirá necessariamente para o processo da visão, do conhecimento ou do entendimento. Em outras palavras, no estado original de unicidade, ou totalidade, não existe nenhum meio ou instrumento através do qual possa ter lugar o ‘conhecimento’.
A mente não pode ser usada para transcender a si mesma. O olho não pode ver a si mesmo; o gosto não pode provar a si mesmo; o som não pode ouvir a si mesmo. O ‘fenômeno’ não pode ser ‘fenômeno’ sem o ‘númeno’. O limite da concepção possível – a abstração da mente – é o númeno, a infinidade do desconhecido. O númeno, o sujeito único, objetifica a si mesmo e percebe o universo, manifestando-se fenomenalmente dentro de si mesmo, mas aparentemente do lado de fora, para ser um objeto perceptível. Para que o númeno se manifeste objetivamente como um universo fenomênico, o conceito de espaço-tempo entra em operação porque os objetos, para serem reconhecíveis, deverão estar estendidos no espaço para adquirirem volume, e deverão estar esticados em duração ou tempo, pois de outra forma não poderiam ser percebidos.
Deste modo, agora tenho todo o quadro: O ser sensível é apenas uma pequena parte dentro do processo da aparente reflexão do númeno dentro do universo fenomênico. Ele é apenas um objeto na objetivação total e, como tal, ‘nós’ não podemos ter nenhuma natureza própria. E, ainda assim – e isto é importante – os fenômenos não são coisas criadas separadamente ou mesmo projetadas, mas são de fato o númeno concebido, ou objetivado. Em outras palavras, a diferença é puramente imaginária. Sem o conceito, são sempre inseparáveis, e não há nenhuma dualidade entre númeno e fenômeno.
Esta identidade – esta inseparabilidade – é a chave para o entendimento, ou melhor, o apercebimento de nossa natureza verdadeira porque, se esta unidade básica entre o númeno e o fenômeno for perdida de vista, iríamos ficar atolados em um pântano de objetivação e de conceitos. Uma vez que se entenda que o númeno é tudo que nós somos e que o fenômeno é o que parecemos ser como objetos separados, será também entendido que nenhuma entidade poderia ser envolvida no que nós somos e, portanto, o conceito de uma entidade que necessita de ‘liberação’ não teria sentido; e a ‘liberação’, se houver alguma, será vista como a liberação do próprio conceito de escravidão e liberação.
Quando eu penso sobre o que Eu era antes de ‘nascer’, sei que este conceito de ‘eu sou’ não estava lá. Na ausência da consciência, não há concepção; e tudo o que acontece na visão não é o que alguém – uma entidade – vê como um sujeito/objeto, mas visto de dentro, da fonte de toda visão. E, então, através deste ‘despertar’, compreendo que a todo-envolvente totalidade do Absoluto não pode ter mesmo um toque de imperfeição relativa; e assim devo, relativamente, viver o tempo de vida designado até o seu fim, até que este ‘conhecimento’ relativo se funda no estado de “não-conhecimento” do Absoluto. Esta condição temporária de ‘eu sei’ e ‘eu sei que sei’ funde-se então neste estado eterno de ‘Eu não sei’ e ‘Eu não sei’ que ‘Eu não sei’.
Um comentário:
....SE BEM ENTENDI A CERTEZA DO EU
SOU se fez presente em algum momento após o nascimento e se fará ausente quando entrar na totalidade do eu sei que não sei
que sei,aparentemente contradiz todos os outros mestres que dizem
"não há para onde ir,sempre estarei presente no eterno,.................então "EU SOU O QUE SOU"não teria inicio nem fim ,e entraria no corpo no 49º (no quadragessimo nono dia)e sairia do corpo ápós a morte,.............
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