Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

domingo, 17 de outubro de 2010

As palavras e sua realização







Era uma manhã na qual, talvez, Maharaj sentia sua fraqueza física um pouco mais que o habitual. Podia-se claramente perceber os efeitos inexoráveis da doença terrível em seu corpo, apesar de seu espírito indomável. Ele parecia frágil e exausto.
Sentou-se em seu lugar de sempre, totalmente quieto, quase imóvel, completamente esquecido da dor que, certamente, era muito intensa. Então, começou a falar de forma serena, suavemente; tinha-se que se concentrar bastante para captar suas palavras.
O que vêem, disse Maharaj, como minha presença enquanto fenômeno significa minha ausência como númeno. Numenicamente, não posso ter nem presença nem ausência, pois ambos são conceitos. O sentido de presença é o conceito que transforma a unicidade do Absoluto na dualidade do relativo. Não-manifesto, eu sou o potencial que, na manifestação, torna-se o atual.
Eu me pergunto, continuou Maharaj, se estas palavras dizem algo a vocês; são meras palavras? Certamente, não duvido de sua sinceridade. Vocês vêm aqui – muitos de lugares distantes e com gastos consideráveis – e dedicam bastante tempo em sentar no chão, o que muitos de vocês não estão acostumados a fazer; e certamente parecem estar atentos ao que digo. Mas vocês devem entender que, a menos que haja um tipo particular de receptividade, as palavras só poderiam atingir um propósito muito limitado. Elas poderiam, talvez, aumentar sua curiosidade intelectual e excitar o desejo de conhecimento, mas não revelariam seu verdadeiro significado.
Agora, qual é este tipo especial de receptividade? Aqui, novamente, encontra-se a limitação endêmica da comunicação através de palavras. Significaria alguma coisa para vocês se eu dissesse que ‘vocês’ vieram aqui para escutar-me, mas devem escutar-me tendo como fundamento que este ‘vocês’ é totalmente ilusório, que não há, na realidade, nenhum ‘vocês’ que possa escutar minhas palavras e obter algum benefício! De fato, devo ir mais longe e dizer que, a menos que abandonem seus papéis de ouvintes individuais que esperam algum benefício do que ouvem, as palavras para vocês seriam meros sons vazios. A obstrução que impede a apercepção é que, embora vocês possam se preparar para aceitar a tese de que tudo no universo é ilusório, nesta condição ilusória vocês falham em incluir a si mesmos! Agora, vocês vêem o problema – ou é mais uma piada que um problema?
Quando – permitam-me não dizer ‘se’ – vocês aceitarem este fundamento para o escutar, isto é, abandonarem todo o interesse no ouvinte que deseja ser um indivíduo ‘melhor’ ao escutar estas palavras e que espera ‘trabalhar’ para um melhoramento perceptível, sabem o que acontecerá? Só então, neste estado de escuta intuitiva, quando o ‘ouvinte’não mais se intrometer, as palavras mostrarão e deixarão ver seus mais sutis significados, os quais a mente aberta, ou em ‘jejum’, compreenderá e se aperceberá com uma convicção profunda e imediata. E, então, as palavras terão alcançado, ao menos, sua limitada realização!
Quando o ouvinte permanecer em um estado de suspensão sem se intrometer no escutar como tal, o que de fato acontecerá é que a mente relativa e dividida será automaticamente contida em sua inclinação natural de se envolver na tortuosa interpretação de palavras, e será, por isto, impedida de manter um processo contínuo de objetivação. E, então, a mente total estará habilitada à comunhão direta tanto com o falar quanto com o escutar como tal, e, através disto, a propiciar a Ioga das palavras, permitindo que estas mostrem seus mais íntimos sentidos e significados mais sutis.  




(Sinais do Absoluto)





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