Sexta-feira, 17 de julho 1981
Era o
dia sagrado do Guru Purnima e Maharaj deve ter recorrido com dificuldade a seus
parcos recursos físicos para falar algumas palavras sobre este dia dos mais
auspiciosos. Estava sentado em sua cama, vestindo um grosso pulôver apesar de a
salinha estar muito quente devido ao número de devotos no local. Ele começou
falando muito debilmente, mas logo sua voz pareceu ganhar uma nova força.
"Vocês têm vindo aqui, todo o tempo
esperando que eu lhes desse um programa do que deveriam fazer para obter a
‘liberação’. E o que continuo falando para vocês é que, desde que não há uma
entidade como tal, a questão da escravidão não surge; e que, se alguém não está
escravizado, não há necessidade de liberação. Tudo o que posso fazer é
mostrar-lhe que o que você é não é o que você pensa ser.
Mas o que digo não é aceitável para a
maioria de vocês. E alguns de vocês vão a outros lugares, onde ficarão felizes
em dar-lhes uma lista de ‘coisas a fazer’ e a ‘não fazer’. E, além disto, eles
agem de acordo com tais instruções com fé e diligência. Mas o que eles não
compreendem é que tudo o que praticam como uma ‘entidade’ apenas fortalece suas
identificações com a entidade ilusória e, portanto, o entendimento da Verdade
continua tão distante como sempre.
As pessoas imaginam que elas devem de
algum modo mudar a si mesmas de seres humanos imperfeitos em seres humanos
perfeitos conhecidos como sábios. Se apenas vissem o absurdo neste pensamento!
Aquele que pensa nestes termos é ele mesmo um conceito, uma aparição, um
personagem em um sonho. Como poderia uma mera imagem ilusória fenomênica
despertar de um sonho através do aperfeiçoamento de si mesma?
O único ‘despertar’ é o apercebimento
daquilo-que-se-é. De fato, não há nenhuma questão de um ‘quem’ nesse
apercebimento, pois a própria apercepção é a natureza verdadeira; e o
pré-requisito de tal apercepção é o desaparecimento do fenômeno. O que é
apercebido é a manifestação como um todo, não por um ‘quem’ que se mantém como
um observador separado. A apercepção é o funcionamento total do Absoluto –
apercepção é o que você é. O universo que aparece na consciência é um espelho
que reflete todos os seres sensíveis, isto é, a consciência é a própria origem
do universo aparente. A consciência não é diferente de seu conteúdo
manifestado.
E tal apercepção não tem nada a ver
com um ‘quem’, com um fenômeno, uma aparência na consciência, que é apenas uma
parte infinitesimal do funcionamento total. O entendimento intuitivo profundo
deste fato é o único ‘despertar’, ou ‘iluminação’, a única ‘libertação’
ilusória de uma escravidão ‘ilusória’, o despertar do sonho da vida.
O que faz o Guru? Um Guru realizado
faria a única coisa que poderia ser feita: apontar para o Sadguru que está no
interior. O Sadguru está sempre ali, que você se lembre dele ou não, e uma associação constante com
ele – seja o que for que você possa estar fazendo – é tudo o que é necessário.
Qualquer outra coisa obtida por meio do esforço não apenas não ajudaria, como
seria um obstáculo e um perigo."
De "Sinais do Absoluto" (Ponters from Nisargadatta Maharaj)
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