Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

domingo, 11 de setembro de 2011

Testemunhar





  
Pergunta: Estou cheio de desejos e quero satisfazê-los. Como obter o que eu quero?

Maharaj: Você merece o que deseja? De um modo ou de outro você tem que trabalhar para realizar seus desejos. Ponha energia neles e espere os resultados.

P: De onde retirar a energia?

M: O próprio desejo é energia.

P: Então, por que não se realizam todos os desejos?

M: Talvez não tenham sido suficientemente fortes e duradouros.

P: Sim, esse é meu problema. Quero coisas, mas sou preguiçoso quando chega o momento da ação.

M: Quando seu desejo não for claro nem forte, não poderá tomar forma. Além disso, se seus desejos forem pessoais, para seu próprio prazer, a energia que você lhes dá, necessariamente, será limitada; ela não poderá ser maior do que a que você tem.

P: Ainda assim, frequentemente, as pessoas comuns alcançam o que desejam.

M: Depois de desejá-lo muito e por muito tempo. Ainda assim, seus feitos serão limitados.

P: E os desejos não egoístas?

M: Quando você desejar o bem comum, o mundo inteiro desejará com você. Faça seu o desejo da humanidade, e trabalhe por ele. Você não poderá falhar.

P: A humanidade é o trabalho de Deus, não o meu. Eu me interesso em mim mesmo. Não tenho o direito de ver meus legítimos desejos realizados? Eles não prejudicarão ninguém. Meus desejos são legítimos. Eles são corretos, por que não se realizam?

M: Os desejos são corretos ou impróprios de acordo com as circunstâncias, dependendo de como os olhar. A distinção entre correto e incorreto só é válida para o indivíduo.

P: Quais são as normas para tal distinção? Como posso saber quais de meus desejos são corretos e quais são incorretos?

M: Em seu caso, os desejos que levam à tristeza são incorretos e aqueles que levam à felicidade são corretos. Mas você não deve esquecer os outros. A tristeza e a felicidade deles também contam.

P: Os resultados estão no futuro. Como posso saber quais serão?

M: Utilize sua mente. Recorde. Observe. Você não é diferente dos outros. A maioria das experiências deles também será válida para você. Pense clara e profundamente, entre em toda a estrutura de seus desejos e de suas ramificações. Eles são a parte mais importante de sua constituição mental e emocional, e afetam poderosamente suas ações. Recorde, você não pode abandonar o que não conhece. Para ir além de você mesmo, deve se conhecer.

P: O que quer dizer conhecer a mim mesmo? Ao conhecer a mim mesmo, que é exatamente o que chego a saber?

M: Tudo o que você não é.

P: E não o que eu sou?

M: O que você é, você já é. Conhecendo o que você não é, você se livra disto, permanecendo em seu próprio estado natural. Tudo ocorre muito espontaneamente e sem esforço.

P: E o que descobrirei?

M: Descobrirá que não há nada a descobrir. Você é o que é e isto é tudo.

P: Mas, finalmente, o que sou eu?

M: A negação final de tudo que não é você.

P: Não entendo!

M: É essa ideia fixa de que você tem que ser uma coisa ou outra que o cega.

P: Como posso desfazer-me desta ideia?

M: Se confiasse em mim, acreditaria quando lhe dissesse que você é a Consciência pura que ilumina a consciência e seu conteúdo infinito. Perceba isto e viva consequentemente. Se você não acreditar em mim, então vá a seu interior e averigue ‘O que sou eu?’, ou focalize sua mente no ‘Eu sou’, o qual é ser puro e simples.

P: De que depende minha fé em você?

M: Em sua capacidade de ver no coração dos demais. Se você não puder olhar em meu coração, olhe dentro do seu.

P: Não posso fazer nenhuma das duas coisas.

M: Purifique-se mediante uma vida útil e bem ordenada. Vigie seus pensamentos, sentimentos, palavras e ações. Isto clareará sua visão.

P: Não devo primeiro renunciar a tudo e viver uma vida sem lar?

M: Você não pode renunciar. Pode deixar sua casa e criar problemas para sua família, mas os apegos estão na mente e não o deixarão até que conheça sua mente por dentro e por fora. Primeiro o começo – conheça a si mesmo, tudo além virá por acréscimo.

P: Mas você já me disse que sou a Realidade Suprema. Isto não é autoconhecimento?

M: Certamente, você é a Realidade Suprema! Mas, e daí? Cada grão de areia é Deus; sabê-lo é importante, mas isso é só o começo.

P: Bem, você me disse que eu sou a Realidade Suprema. Acreditei em você. O que tenho que fazer agora?

M: Já o disse. Descubra tudo o que não é. Corpo, sentimentos, pensamentos, ideias, tempo, espaço, ser e não ser, isto ou aquilo – nada concreto ou abstrato que possa apontar é você. Uma mera afirmação verbal não bastará – você pode repetir uma fórmula interminável sem nenhum resultado. Você deve ser a testemunha de você mesmo continuamente, em particular de sua mente, momento a momento, sem perder nada. Este testemunhar é essencial para a separação entre o eu e o não eu.

P: Este testemunhar – não é minha natureza real?

M: Para ser a testemunha, deve haver algo para testemunhar. Estamos ainda na dualidade!

P: E ser testemunha da testemunha?  Consciência da Consciência?

M: Juntar palavras não o levará longe. Vá para seu interior e descubra o que você não é. Nada mais importa.


De: "Eu Sou Aquilo - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj"






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