Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

domingo, 13 de março de 2011

Não Subestime a Atenção





Pergunta: Como eu o vejo, você parece ser um homem pobre, com meios muito limitados, enfrentando todos os problemas da pobreza e da velhice, como os demais homens.

Maharaj: Se eu fosse rico, que diferença isto faria? Eu sou o que eu sou. De que outra maneira poderia ser? Não sou rico nem pobre, sou eu mesmo.

P: Ainda assim, você também experiencia prazer e dor.

M: Experiencio-os na consciência, mas não sou nem a consciência nem seu conteúdo.

P: Você diz que, em nosso ser real, somos todos iguais. Como é que sua experiência é tão diferente da nossa?

M: Minha experiência real não é diferente. O que difere é minha atitude e minha avaliação. Eu vejo o mesmo mundo que você vê, mas não do mesmo modo. Não há nada de misterioso nele. Todos veem o mundo através da ideia que têm de si mesmos. Segundo o que acredita que você é, assim pensará que o mundo é. Se você se imaginar como separado do mundo, o mundo aparecerá como separado de você, e você experienciará o desejo e o medo. Eu não vejo o mundo como separado de mim e, portanto, não há nada a desejar ou temer.

P: Você é um ponto de luz no mundo. Nem todo mundo o é.

M: Não há absolutamente nenhuma diferença entre mim e os demais, exceto em que eu me conheço como eu sou. Eu sou tudo. Sei disto com toda a certeza e você não.

P: Portanto dá no mesmo se diferimos ou não.

M: Não, não fazemos assim. A diferença está apenas na mente e é temporária. Eu era como você, você será como eu.

P: Deus fez um mundo muito diversificado.

M: A diversidade só existe em você. Veja-se como é e verá o mundo como ele é – um só bloco de realidade, indivisível, indescritível. Seu próprio poder criativo projeta sobre ele uma imagem e todas suas perguntas se referem a essa imagem.

P: Um Iogue tibetano escreveu que Deus cria o mundo com um propósito e o governa de acordo com um plano. O propósito é bom e o plano, muito sábio.

M: Tudo isto é temporário; eu estou tratando com o eterno. Os deuses e seus universos vêm e vão, os avatars se sucedem uns aos outros sem cessar e, no final, regressamos à origem. Eu falo apenas da origem atemporal de todos os deuses com todos os seus universos, passados, presentes e futuros.

P: Você os conhece todos? Lembra deles?

M: Quando algumas poucas crianças montam uma brincadeira para divertir-se, o que há aí para ver e recordar?

P: Por que a metade da humanidade é masculina e a outra feminina?

M: Para a felicidade de todos. O impessoal (avyakta) se converte no pessoal (vyakta) para que haja felicidade na relação. Pela graça de meu Guru, posso ver, com o mesmo olho, tanto o impessoal quanto o pessoal. Ambos são um para mim. Na vida, o pessoal se funde ao impessoal.

P: Como o pessoal emerge do impessoal?

M: Os dois são apenas aspectos da única realidade. Não é correto dizer que um precede o outro. Todas estas ideias pertencem ao estado de vigília.

P: O que traz o estado de vigília?

M: Na raiz de toda a criação repousa o desejo. O desejo e a imaginação promovem e reforçam um ao outro. O quarto estado (turiya) é um estado de puro testemunhar, de consciência desapegada, sem paixão e sem palavras. É como o espaço que não é afetado pelo que quer que ele contenha. Os problemas corporais e mentais não o alcançam – eles estão fora, ‘lá’, enquanto a testemunha está sempre ‘aqui’.

P: Que é o real, o subjetivo ou o objetivo? Estou inclinado a crer que o universo objetivo é o real e que minha psique subjetiva é mutável e transitória. Você parece reivindicar a realidade de seus estados internos subjetivos e negar toda realidade ao mundo externo, concreto.

M: Ambos, o objetivo e o subjetivo são mutáveis e transitórios. Não há nada real neles. Encontre o permanente no efêmero, o único fator constante em toda experiência.

P: Qual é este fator constante?

M: Que eu lhe dê vários nomes e designe de diversos modos não o ajudará muito, a menos que você tenha a capacidade de ver. Um homem de pouca visão não verá o papagaio no ramo de uma árvore por muito que o incite a olhar. No melhor dos casos verá o seu dedo apontando. Antes de tudo, purifique sua própria visão, aprenda a ver em vez de encarar, e você perceberá o papagaio. Também, você deve estar ávido para ver. Você necessita tanto claridade quanto seriedade para chegar ao autoconhecimento. Você necessita maturidade de coração e de mente, a qual vem através da séria aplicação na vida diária do pouco que você entendeu. Na Ioga não há compromissos.
      Se quiser pecar, peque de todo o coração e abertamente. Os pecados também têm suas lições a ensinar ao pecador sincero, como as virtudes – ao santo sincero. É a mescla dos dois que resulta tão desastrosa. Nada pode bloquear-lhe tão eficazmente como o compromisso, pois lhe falta sinceridade, sem a qual nada pode ser feito.

P: Aprovo a austeridade, mas, na prática, gosto decididamente da vida luxuosa. O hábito de perseguir o prazer e de fugir da dor está tão enraizado em mim que todas minhas boas intenções – bastante vivas no nível teórico – não encontram raízes em minha vida diária. Dizer-me que não sou honesto não me ajuda, porque simplesmente não sei como me tornar honesto.

M: Você não é honesto nem desonesto – dar nome a estados mentais só serve para expressar sua aprovação ou desaprovação. O problema não é seu – é apenas de sua mente. Comece por dissociar-se de sua mente. Recorde-se resolutamente que você não é a mente, e que seus problemas não são seus.

P: Posso dizer a mim mesmo: ‘Não sou a mente, não me interessam seus problemas’, mas a mente continua existindo e seus problemas seguem sendo os mesmos. Não me diga agora, por favor, que é porque não sou suficientemente sério e que deveria ser mais honesto! Já o sei e admito, e apenas lhe pergunto – como isto é feito?

M: Pelo menos pergunta! É suficiente para começar. Continue refletindo, perguntando-se, desejando encontrar um caminho. Seja consciente de si mesmo, observe sua mente, dê a ela toda sua atenção. Não busque resultados rápidos; pode ser que não note nenhum. Sem que você o saiba, sua psique empreenderá uma mudança, haverá mais claridade em seu pensamento, caridade em seu sentimento, pureza em sua conduta. Você não tem que tratar de consegui-las, ainda assim você testemunhará a mudança. Pois o que você é agora é o resultado da falta de atenção, e o que virá a ser será fruto da atenção.

P: Por que a mera atenção faz toda a diferença?

M: Até agora sua vida foi obscura e inquieta (tamas e rajas). A atenção, o estado de alerta, a Consciência, a claridade, a viveza, a vitalidade, todas são manifestações de integridade, de unidade com sua verdadeira natureza (sattva). A natureza de sattva é reconciliar e neutralizar rajas e tamas, e reconstruir a personalidade de acordo com a verdadeira natureza do eu. Sattva é o servente fiel do eu, sempre atento e obediente.

P: E deverei chegar a isto através da mera atenção?

M: Não subestime a atenção. Ela significa interesse e também amor. Para conhecer, fazer, descobrir, ou criar, você deve dar o seu coração a ela – o que significa atenção. Todas as bênçãos fluem dela.

P: Você nos aconselha a concentrar-nos no ‘Eu sou’. Isto também é uma forma de atenção?

M: O que seria, se não isto? Dê toda sua atenção ao mais importante de sua vida – você mesmo. De seu universo pessoal, você é o centro; sem conhecer o centro, o que poderia conhecer?

P: Mas como conhecer a mim mesmo? Para conhecer-me, tenho que estar distante de mim mesmo. Mas o que está distante de mim mesmo não pode ser eu. De modo que parece que não posso conhecer-me, só o que tomo por mim mesmo.

M: Correto. Assim como não pode ver o seu rosto senão apenas como um reflexo no espelho, do mesmo modo só poderá conhecer sua imagem refletida no espelho imaculado da Consciência pura.

P: Como posso obter esse espelho imaculado?

M: Obviamente, retirando as manchas. Veja as manchas e remova-as. O ensinamento antigo é totalmente válido.

P: Que é visão e o que é remoção?

M: A natureza do espelho perfeito é tal que você não pode vê-lo. Qualquer coisa que veja será necessariamente uma mancha. Afaste-se dela, abandone-a, veja-a como algo que não quer.

P: Tudo o que se percebe são manchas?

M: Tudo são manchas.

P: O mundo inteiro é uma mancha.

M: Sim, é.

P: Que horror! De modo que o universo não tem valor?

M: Tem um valor tremendo. Por ir além do universo, você percebe seu próprio ser.

P: Mas por que ele surgiu em primeira instância?

M: Você saberá quando terminar.

P: Isto irá acabar?

M: Para você, sim.

P: Quando começou?

M: Agora.

P: Quando terminará?

M: Agora.

P: Agora não termina?

M: Você não deixa que termine.

P: Quero que termine.

M: Não, não quer. Toda sua vida está conectada com o universo. O passado e o futuro, seus desejos e seus temores, todos têm suas raízes no mundo. Sem o mundo onde você está, quem é você?

P: Mas isso é exatamente o que acabo de descobrir.

M: E eu estou lhe dizendo exatamente isto: encontre um ponto de apoio além e tudo será fácil e claro.

De: "Eu Sou Aquilo" = Editora Advaita


 

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