Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

sábado, 8 de janeiro de 2011

Ramesh Balsekar: trechos do livro "Consciousness Speaks"





Pergunta: Existe Consciência no espaço físico entre você e eu?

Ramesh: Tudo o que existe é a Consciência. Você e eu somos meros objetos projetados neste espaço. Tudo o que há é a Consciência. O espaço e o tempo são meros conceitos, um mecanismo para os objetos serem estendidos. Para os objetos tri-dimensionais serem estendidos o espaço é necessário. E o tempo é necessário para os objetos serem observados. A menos que aquele objeto seja observado, ele não existe.
Então o espaço e o tempo são meramente conceitos, um mecanismo, criado para esta manifestação acontecer e ser observada.
É incrível o quanto nos últimos poucos anos, comparativamente, a ciência deslanchou. A ciência diz a mesma coisa. Ela diz que o tempo e o espaço não são reais. Acho que foi o Sr. Fred Hoyle que disse: “Se você pensa que há um passado indo para o futuro ou futuro indo para o passado, você não poderia estar mais errado. Não pode existir tal fluxo. Está tudo aí, agora.”
A metáfora mais próxima que posso sugerir é esta: Se há uma pintura de uma milha de comprimento e dez andares de altura, está tudo lá, mas para você poder vê-la do início até o fim levaria algum tempo. Porque não conseguimos ver a figura toda num relance, a mente humana não é capaz disso, pensamos em termos de tempo. Mas a coisa toda está aí.

P: E como você disse, não vemos a figura toda, estamos vendo apenas uma pequena parte dela.

R: Parte por parte. Então até você chegar ao fim o tempo transcorreu. O conceito de tempo transcorreu.

P: Então, na realidade estamos limitados pelo tempo e o espaço?

R: Correto. Limitados pelo tempo, pelo espaço e pelo intelecto.


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Pergunta: Há um ditado Zen: “Quando você carrega água, carregue água.”

Ramesh: Sim! Assim como um mestre Zen que disse: “Se você quer a iluminação vá lavar os pratos.” O que quer dizer que quando você lavar os pratos, não lave-os com suas mãos enquanto sua mente está vagando por toda parte.

P: Com ressentimento.

R: Isso não é lavar pratos. O sábio, o homem de sabedoria, tem uma atitude básica de trabalho e de vida de uma confiança respeitosa com relação à natureza e à natureza humana, a despeito das guerras, das revoluções, da fome, do aumento da criminalidade e todos os tipos de horrores. Ele não está preocupado com a noção de um pecado original e nem tem o sentimento de que a existência, samsara mesmo, é um desastre. Seu entendimento básico tem a premissa de que se você não pode confiar na natureza e nas outras pessoas, você não pode confiar em você mesmo.
Sem essa confiança como pano de fundo, uma fé no funcionamento da Totalidade, em todo o sistema da natureza, ficamos simplesmente paralisados. Afinal, não é realmente uma questão de você estando de um lado e a confiança na natureza de outro. Na verdade é uma questão de perceber que nós e a natureza somos um e o mesmo processo, não entidades separadas. Você não pode omitir um inteiro sem perturbar o sistema todo.
Em outras palavras, o universo é um processo orgânico e relacional, não um mecanismo. Ele não é de maneira nenhuma análogo a uma hierarquia política ou militar onde há um comandante supremo. Ele é múltiplo, uma rede multi-dimensional de jóias, cada uma contendo o reflexo de todas as outras. É assim que o universo tem sido descrito. Cada jóia é uma coisa-evento e entre uma coisa-evento e outra não há obstrução. A mútua interpenetração e interdependência de tudo no universo. É por isso que o Chinês diz: “Arranque uma folha de grama e você chacoalhará o universo.”
O princípio básico dessa visão orgânica do universo é que o cosmos está implícito em cada membro dele e cada ponto dele pode ser considerado como um centro. A compreensão perfeita é um holofote de luz no universo todo em seu funcionamento, exibindo-o como uma harmonia de padrões intrincados. Enquanto que a visão-lanterna da mente dividida da entidade individual ilusória vê apenas cada padrão por si mesmo, parte por parte, e conclui que o universo é uma massa de conflito. É uma visão-lanterna limitada que daria um senso de horror ao normal fenômeno universal de uma espécie no mundo biológico sendo a comida de outra. A perspectiva mais ampla, a do holofote, é a compreensão perfeita e ela veria as coisas como elas são.
O nascimento e a morte não são nada além de integração e desintegração, o aparecimento e o subsequente desaparecimento dos objetos fenomenais na manifestação. A compreensão verdadeira, a apercepção, inclui a compreensão de que não existe separação entre a compreensão e a ação.
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Pergunta: A utilização do termo “evolução espiritual” pressupõe um envolvimento com o tempo.

Ramesh: De fato, é claro. Todo o processo é na fenomenalidade tempo-espaço.

P: O que é isso que está envolvido com o tempo, é o mecanismo corpo-mente?

R: Não. O que está envolvido no tempo-espaço é a Consciência identificada, a Consciência que deliberadamente identificou-se com um organismo individual.

P: Por que isso ocorreu?

R: Para que esse lila, esse jogo, esse sonho cósmico pudesse acontecer. Esse processo de identificação é contínuo. Novas criaturas, novos seres humanos estão constantemente sendo criados e neles a identificação acontece. Essa identificação prossegue num processo de evolução. Em algum ponto a mente volta-se para dentro e o processo de desidentificação se inicia. Esse processo leva muito tempo e muitos nascimentos. Todo o jogo é identificação, depois a mente volta-se para o interior e então dá-se o processo de desidentificação. Saiba você, tudo isso é um conceito, mas pode ajudar a trazer a compreensão final.

P: Esse voltar-se para dentro é um meio de ignorar o ego?

R: Não. O voltar-se para o interior pode apenas acontecer, você vê. O voltar-se para dentro é esse processo de evolução espiritual. A evolução ocorre em todas as coisas. Há a evolução física, há a evolução na música, na arte, na ciência e há evolução espiritual.
Nessa evolução espiritual, há primeiro a identificação que ocorre através de muitos milhares de organismos corpo-mente. Quero dizer, poderiam ser centenas de milhares ou milhões, esse não é o ponto mas é que ocorre através de diversos organismos corpo-mente. E num certo organismo corpo-mente o voltar-se para dentro irá acontecer. Um pensamento ocorre ou um evento ocorre ou algo acontece, e com isso como uma aparente causa, a mente volta-se para dentro. E em vez da mente ir para fora, querendo mais e mais objetos materiais, a mente volta-se para dentro e quer conhecer sua natureza real: “Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? Qual é o sentido da vida?” Então o processo de desidentificação começa. A busca espiritual nessa evolução começa com a mente voltando-se para dentro e o indivíduo começando a buscar. E essa busca, que na verdade é o processo de desidentificação, continua através de vários processos na evolução. De um tipo de busca você vai para outro tipo de busca e passa por muitas frustrações, até que finalmente há uma compreensão repentina de que nenhum “indivíduo” jamais pode ser iluminado. A iluminação, sendo um acontecimento impessoal, pode acontecer apenas através de um objeto. Para qualquer evento poder acontecer um objeto é necessário. Assim, quando a iluminação está para acontecer um organismo corpo-mente que está pronto para receber essa iluminação é criado nesta evolução. Ele tem as características físicas, mentais, temperamentais, que tornam esse organismo corpo-mente capaz de receber a iluminação. E esse próprio organismo corpo-mente é um processo de evolução.
O início dessa compreensão, na duração, é a aceitação de que a iluminação pode não acontecer através deste organismo corpo-mente. Para um buscador é uma coisa muito difícil de aceitar, para um indivíduo buscador, mas esse é um marco importante nesse processo na dualidade. Então um “abrir mão” acontece e há um tremendo sentido de liberdade. “Se eu não posso ter a iluminação e se um objeto não pode ser iluminado, o que estou buscando?”
De modo que esse “abrir mão” acontece e essa identificação com este corpo-mente, esse “eu”, fica mais fraca. Mas um certo salto quântico acontece no processo. E o salto quântico final, que está logo antes da iluminação, é este: “não há mais busca, não há mais preocupação se a iluminação vai acontecer ou não.” Quando essa aceitação surge, o “eu” praticamente já se foi. Porque é o “eu” que é o buscador, não o organismo corpo-mente. O organismo por si mesmo é apenas um objeto inerte, necessário para a iluminação acontecer.

P: O “eu” é o “eu” enquanto houver o buscador, correto?

R: Sim, correto. Então quando a busca desaparece, o “eu” buscador também desaparece.

P: Então, esse é o ponto final, a evolução de “eu”?

R: Sim. O “eu” evolui, mas não esse “eu”.

P: Sei, quero dizer coletivamente.

R: Sim, como disse, um “eu” chamado Albert Einstein foi evoluído para a teoria da relatividade. Mas apenas para a teoria da relatividade. Para uma subsequente evolução na ciência, outros corpos-mentes foram criados. Einstein não estava pronto para aceitar o desenvolvimento ulterior da teoria quântica. Ele não podia aceitar a teoria da incerteza de Heisenberg. Einstein disse que essa teoria da incerteza significava que “Deus estava jogando dados com o universo.” Ele disse que ele não podia aceitar que Deus estava jogando dados com o universo. Niels Bohr respondeu: “Deus não está jogando dados com o universo. Nós pensamos isso porque não temos todas as informações que Deus tem!”
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Pergunta: Você pergunta frequentemente: “quem está aprisionado?” “Quem está buscando?” Eu gostaria de fazer a mesma pergunta para você.

Ramesh: É a consciência individual ou pessoal que está buscando sua fonte. A consciência, tendo identificado a si mesma num “eu” pessoal, está agora tentando recuperar sua impessoalidade. Isso é tudo que está acontecendo. E o processo torna-se mais rápido quando a mente não interfere, quando o “eu” não está presente, apenas o eu, o Eu Subjetivo está presente. O sábio Ashtavakra nos diz o que é o aprisionamento.
Ele diz: “Significa aprisionamento quando a mente deseja algo ou se aflige por algo. Significa liberação quando a mente não deseja ou se aflige, não aceita ou rejeita, não sente-se feliz ou infeliz.”
Agora, a mente humana treinada e condicionada como é, prontamente diz: “Eu não posso desejar nada, não devo rejeitar nada.” Mas a mente é incapaz de perceber que esse não-desejar algo inclui desejar o conhecimento de sua verdadeira natureza. Desejo não significa apenas desejar algum objeto mas mesmo o desejo pela iluminação. A necessidade de saber, de ter o conhecimento de sua verdadeira natureza, mesmo isso é um desejo e esse desejo acontece através do “eu”.
Significa aprisionamento quando a mente deseja algo ou se aflige por algo. A mente deseja a iluminação e se aflige pelo fato que ela ainda não se iluminou. “Eu” estou nisso a dez, doze, vinte e cinco anos e ainda assim nada está acontecendo!” A mente se aflige por esse “não acontecer”. A mente deseja ou quer algum acontecimento e se aflige pelo não acontecimento desse evento. Significa liberação quando a mente não deseja, quer ou se aflige, quando a mente está vazia, quando a mente está aberta. A mente vazia não é a mente vazia de um idiota, é uma mente aberta, o mais alerta que a mente possa estar, porque ela não está condicionada. Não está querendo nada, não está preenchida de coisa nenhuma. Não há ninguém em casa. A mente está vazia. Ela não rejeita ou aceita, não sente feliz ou infeliz.
Em seguida, Ashtavakra diz: “ Significa aprisionamento quando a mente está apegada a qualquer experiência sensorial. É liberação quando a mente está desapegada de todas as experiências sensoriais.” Novamente ele coloca isso de uma maneira tão breve. Ele não forçou-se a explicar. O sábio quer que o suposto buscador descubra isso por si mesmo. Ele não está dizendo que a experiência sensorial não surgirá. Ele não está dizendo que a iluminação impede o surgimento de qualquer experiência sensorial. O surgimento de uma experiência, de um evento, está totalmente fora do controle de qualquer organismo corpo-mente, tenha a iluminação acontecido ou não. Portanto, não é que o sábio recusa toda experiência sensorial, ela está lá. A experiência sensorial é experimentada mas a mente não está apegada àquela experiência sensorial. Ela acontece e termina. E qualquer experiência é sempre no momento presente. Qualquer experiência boa ou ruim, prazerosa ou não-prazerosa, é sempre no momento presente. Toda experiência é uma experiência impessoal. A experiência impessoal perde sua impessoalidade quando a mente-intelecto aceita essa experiência como sendo dela própria, aceita-a ou rejeita-a como boa ou ruim. Se é prazerosa ela quer que essa experiência venha mais frequentemente. Se for ruim ela rejeita-a, ela não quer. Portanto, o apego a uma experiência acontece sempre no tempo, na duração. A experiência impessoal, que é a experiência do sábio, é sempre no momento presente e quando essa experiência se vai a mente não pensa mais sobre ela. A mente está totalmente desapegada. A experiência é vista como uma experiência impessoal e naquele momento ela é terminada. A liberação é quando a mente está desapegada de todas as experiências sensoriais.
Por último Ashtavakra diz: “Quando o 'eu' está presente é aprisionamento. Quando o 'eu' não está lá é liberação. Sabendo disso o sábio mantém-se aberto para o que quer que a vida possa trazer, sem aceitar e sem rejeitar isso.”
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Pergunta: Esse sentimento íntimo e próximo que tenho de “eu”, ele de fato dissolve?
Ramesh: Ele dissolve, mas quem vai testemunhar essa dissolução? Você vê o que quero dizer? Ele de fato dissolve, portanto o que dissolve é o próprio “eu”. Quem é que sabe que o “eu” dissolveu? É apenas o “eu” que poderia experimentar isso.
P: Então o “eu” vai ir e vir e depois terminará?
R: Sim. E enquanto o “eu” vai e vem, o estado de testemunhar acontece. O “eu” é a mente, portanto, a mente não pode observar a si mesma. Se a mente observar sua própria operação, então sempre haverá comparação e julgamento: “Isso é bom, isso é ruim, isso é tal e tal.” Isso não é testemunhar. Testemunhar é meramente observar um evento ou um pensamento ou uma emoção conforme surjam, sem fazer nenhuma comparação, sem nenhum julgamento, meramente testemunhar. O testemunhar é impessoal e é vertical, portanto ele corta o envolvimento horizontal. Conforme o “eu” diminuir, o testemunhar irá acontecer mais frequentemente e por períodos mais longos. De repente chegará o momento em que as reações não mais acontecerão para um evento ou um pensamento, onde haverá um sentimento de paz, de bem-estar, mas não haverá “alguém” para sentir esse bem-estar. Não é que o “eu” repentinamente dirá: “Ah, eu desapareci!” Quem estará lá para dizer que desapareceu?
P: Mas ele dissolve?
R: Sim, mas não se você quiser que ele dissolva.


(Extraído do Blog Portal do Conhecimento Divino)



Um comentário:

Anônimo disse...

Belo conhecimento,

Lembra muito o budismo. O importante é o vivenciar o aqui e o agora, mas como se fosse a superfície de um lago que não retém a imagem que reflete.

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