Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

domingo, 25 de outubro de 2009

Um jovem cego com visão verdadeira








Certa vez, ao fim de uma longa sessão de diálogo e exposição, durante a qual Maharaj repetidamente conduziu seus ouvintes ao ponto básico de seu ensinamento (que a presença consciente, ‘eu sou’, é o conceito original sobre o qual tudo aparece, e que este conceito em si mesmo é apenas uma ilusão), ele perguntou: Vocês entenderam o que estou tentando dizer?
Esta pergunta foi dirigida a todos os ouvintes. Todos permaneceram silenciosos, mas um entre eles disse:
“Sim, Maharaj, entendi suas palavras intelectualmente, mas...” Maharaj ouviu a resposta e sorriu cansadamente, talvez porque estivesse divertido pelo fato de que o seu interlocutor, embora tenha dito que entendeu, realmente não tinha entendido. Então, prosseguiu para explicar o assunto de forma clara, na maneira categórica que se segue:

1. O conhecimento eu sou, ou a consciência, é o único ‘capital’ que um ser sensível tem. De fato, sem a consciência, ele não teria qualquer sensibilidade.

2. Quando este sentido de eu sou não está presente, como no sono profundo, não há corpo nem mundo externo e nenhum ‘Deus’. É evidente que uma minúscula partícula desta consciência contém o universo inteiro.

3. Todavia, a consciência não pode existir sem um corpo físico e, sendo temporária a existência do corpo, também deve ser temporária.

4. Finalmente, se a consciência for limitada pelo tempo e não eterna, qualquer conhecimento adquirido através dela não pode ser a verdade e será, portanto, finalmente rejeitado ou, como eu disse, oferecido ao Brahman como um sacrifício – Brahman sendo a consciência, existência, o sentido de Eu Sou, ou Ishwara, ou Deus, ou qualquer nome que lhe der. Em outras palavras, os opostos inter-relacionados, conhecimento e ignorância, estão na área do conhecido e, portanto, não são a verdade – a verdade está apenas no desconhecido. Uma vez que isto seja claramente entendido, nada mais resta a ser feito. De fato, não há realmente nenhuma ‘entidade’ para fazer qualquer coisa.

Depois de pronunciar estas palavras, Maharaj ficou silencioso e fechou seus olhos. A pequena sala parecia estar mergulhada em uma paz luminosa. Ninguém falou uma única palavra. Por que, perguntei-me, a maioria de nós é incapaz de ver e sentir a manifestação dinâmica da verdade apresentada por Maharaj repetidas vezes?
E por que alguns de nós – embora poucos – a vejamos em um instante?
Depois de algum tempo, quando Maharaj abriu os olhos e todos revertemos ao estado normal, alguém atraiu sua atenção para o pobre jovem cego que havia aparecido recentemente uma ou duas vezes em suas conversas, na manhã e, novamente, ao anoitecer, e tinha retornado ‘liberado’. No fim da sessão, quando o jovem se despediu de Maharaj e lhe foi perguntado se tinha entendido o que havia sido dito, ele respondeu com segurança:
“Sim”. Quando o próprio Maharaj lhe perguntou o que ele havia entendido, ele sentou-se quietamente por alguns momentos e então falou:
"Maharaj, eu não tenho as palavras corretas para expressar meu sentimento de gratidão a você por tornar tudo tão claro para mim, de forma tão simples e tão rapidamente. Poderia resumir assim o seu ensinamento:

1. Você me pediu para lembrar-me o que eu era antes de ter este conhecimento “eu sou” junto com o corpo, isto é, antes de eu “nascer”;

2. Você me falou que este corpo com uma consciência surgiu em mim sem meu conhecimento ou concordância, portanto, ‘eu’ nunca ‘nasci’;

3. Este corpo com uma consciência que ‘nasceu’ é temporal e, quando ele desaparecer no fim de seu tempo designado, deverei voltar a meu estado original, o qual está sempre presente, mas não em manifestação;

4. Portanto, eu não sou a consciência e, certamente, não sou a estrutura física na qual mora esta consciência;

5. Finalmente, eu entendo que há apenas ‘Eu’ – nem ‘eu’, nem ‘meu’, nem ‘você’ – apenas este que é. Não há escravidão exceto o conceito de um ‘eu’ e de ‘meu’ separados nesta totalidade da manifestação e funcionamento.

Depois de ouvir estas palavras do jovem cego, declaradas com absoluta convicção, Maharaj dirigiu-lhe um olhar de entendimento e amor e perguntou-lhe: “Agora, o que você fará?” A resposta foi: “Mestre, verdadeiramente o compreendi. Não farei nada. O ‘viver’ continuará”. Então apresentou seus respeitos a Maharaj com grande devoção e o deixou.
O jovem cego não era realmente cego, disse Maharaj. Ele tem a visão verdadeira. Há poucos como ele.

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