Maharaj:
O buscador é aquele que está em busca de si mesmo. Logo ele
descobre que seu próprio corpo não pode ser ele. Uma vez que a
convicção ‘Eu não sou o corpo’ tenha se tornado tão bem
enraizada que ele não pode mais sentir, pensar e atuar por e em
benefício do corpo, facilmente descobrirá que ele é o ser
universal, conhecendo – e agindo em consequência – que nele e
através dele o universo inteiro é real, consciente e ativo. Este é
o âmago do problema; ou você é consciente do corpo e escravo das
circunstâncias, ou você é a própria consciência universal – e
em pleno controle de cada fato.
Ainda
assim, a consciência, individual e universal, não é meu verdadeiro
lar; não estou nela, ela não é minha, não há nenhum ‘eu’
nela. Estou além, embora não seja facilmente explicado como alguém
pode ser nem consciente, nem inconsciente, mas exatamente além. Eu
não posso dizer que estou em Deus ou que eu sou Deus; Deus é a luz
e o amor universais, a testemunha universal; eu estou além inclusive
do universal.
Pergunta:
Neste caso você é sem nome e forma. Que tipo de ser você tem?
M:
Sou o que sou, nem com forma nem sem forma, nem consciente nem
inconsciente. Estou fora de todas estas categorias.
P:
Você está empregando a abordagem do neti-neti
(não isto, não aquilo).
M:
Você não pode encontrar-me pela mera negação. Eu sou tanto tudo
quanto nada; nem ambos, nem nenhum. Estas definições se aplicam ao
Senhor do Universo, não a mim.
P:
Você pretende transmitir que você é exatamente nada.
M:
Oh, não! Sou completo e perfeito. Sou a existência do ser, a
sabedoria do saber, a plenitude da felicidade. Você não pode me
reduzir ao vazio!P:
Se você está além das palavras, sobre o que deveremos falar?
Falando metafisicamente, o que você diz se mantém coeso, não há
nenhuma contradição interna. Mas não há nenhum alimento para mim
no que você diz. Está completamente além de minhas necessidades
urgentes. Quando peço pão, você me dá joias. São bonitas, sem
dúvida, mas eu estou faminto.
M:
Não é assim. Estou oferecendo a você exatamente o que você
necessita – o despertar. Você não está faminto e não precisa de
pão. Você necessita de cessação, renúncia, desembaraço. O que
você acredita necessitar não é o que você necessita. Eu conheço
sua necessidade real, você não. Você necessita retornar ao estado
no qual eu estou – seu estado natural. Qualquer outra coisa que
você possa pensar é uma ilusão e um obstáculo. Acredite em mim,
você não necessita nada exceto ser o que é. Você imagina que
aumentará seu valor pela aquisição. É como o ouro imaginando que
uma adição de cobre o melhorará. A eliminação e a purificação,
a renúncia de tudo o que é estranho à sua natureza é o bastante.
Tudo mais é vaidade.
P:
É mais fácil dizer que fazer. Um homem vem a você com uma dor de
estômago e você o aconselha a vomitar seu estômago. Certamente,
não haverá problema nenhum sem a mente. Mas a mente existe – de
forma muito tangível.
M:
É a mente que lhe diz que a mente existe. Não se deixe enganar.
Todos os infindáveis argumentos sobre a mente são produzidos pela
própria mente, para sua própria proteção, continuação e
expansão. É a rejeição a considerar os espasmos e convulsões da
mente que pode levá-lo além dela.
P:
Senhor, eu sou um humilde buscador, enquanto você é a própria
Realidade Suprema. Agora o buscador se aproxima do Supremo para ser
iluminado. O que o Supremo faz?
M:
Escute o que continuo lhe falando e não se afaste disto. Pense nisto
todo o tempo e em nada mais. Tendo chegado a este ponto, abandone
todos os pensamentos, não apenas do mundo, mas de você mesmo
também. Permaneça além de todo pensamento, na silenciosa
Consciência do ser. Isto não é progresso, pois o que vem já está
em você, esperando por você.
P:
Assim você diz que devo tentar a parada do pensamento e permanecer
firme na ideia ‘Eu sou’.
M:
Sim, e esvazie de todo significado qualquer pensamento que venha a
você em conexão com o ‘Eu sou’, e não lhes dê atenção.
P:
Acontece que eu encontrei muitos jovens que vieram do Ocidente e
percebo que há uma diferença básica quando os comparo aos
indianos. Parece como se suas psiques (antahkarana)
fossem diferentes. Conceitos como o Eu, Realidade, mente pura,
consciência universal são compreendidos facilmente pela mente
indiana. Eles soam familiares, têm sabor doce. A mente
ocidental não responde, ou apenas os rejeita. Ela os concretiza e
deseja para o emprego imediato a serviço dos valores aceitos. Estes
valores são frequentemente pessoais: saúde, bem-estar,
prosperidade; algumas vezes são sociais – uma sociedade melhor,
uma vida mais feliz para todos; todos estão conectados com os
problemas mundanos, pessoais ou impessoais. Outra dificuldade com a
qual nos defrontamos frequentemente nas conversas com ocidentais é
que, para eles, tudo é experiência – do mesmo modo que eles
querem experimentar o alimento, a bebida e as mulheres, a arte e as
viagens, assim eles desejam experimentar a Ioga, a realização e a
liberação. Para eles é como outra experiência, a ser obtida por
um preço. Eles imaginam que tais experiências possam ser compradas
e pechincham sobre o preço. Quando um Guru põe o preço muito alto,
em termos de tempo e esforço, eles vão para outro que ofereça
pagamentos a prazo, aparentemente mais acessíveis, mas cercados de
condições que não possam ser cumpridas. É a velha história de
não pensar em um macaco cinza quando tomar o remédio! Neste caso,
são coisas como não pensar no mundo, ‘abandonar toda proteção’,
‘extinguir todo desejo’, ‘tornar-se perfeitamente celibatário’,
etc. Naturalmente, há um enorme engano em todos os níveis, e os
resultados são nulos. Alguns Gurus, em aguda desesperação,
abandonam toda disciplina, não prescrevem condições, aconselham o
não esforço, a naturalidade, a viver simplesmente em uma
Consciência passiva, sem qualquer padrão de ‘deve’ ou ‘não
deve’. E há muitos discípulos cujas experiências passadas os
levaram ao desgosto de si mesmos de tal maneira que, simplesmente,
eles não querem olhar para eles mesmos. Se não estiverem enojados,
estarão entediados. Estão fartos do autoconhecimento, querem alguma
outra coisa.
M:
Permita-lhes que não pensem neles mesmos, se não lhes agrada.
Deixe-os que estejam com um Guru, que o observem, que pensem nele.
Logo experimentarão um tipo de felicidade, totalmente nova, nunca
experimentada antes, exceto, talvez, na infância. A experiência é
tão inconfundivelmente nova que atrairá sua atenção e criará
interesse; uma vez despertado o interesse, ordenadamente a aplicação
se seguirá.
P:
Estas pessoas são muito críticas e desconfiadas. Não podem ser de
outra forma, tendo passado por tanto aprendizado e tantas decepções.
Por um lado elas querem a experiência, pelo outro desconfiam dela.
Só Deus sabe como chegar a elas!
M:
A verdadeira compreensão e amor as alcançarão.
P:
Quando elas têm alguma experiência espiritual, surge outra
dificuldade. Elas se queixam de que a experiência não dura, que vem
e vai de modo aleatório. Tendo agarrado o pirulito, querem sugá-lo
todo o tempo.
M:
A experiência, por sublime que seja, não é a coisa real. Por
natureza, ela vem e vai. A autorrealização não é uma aquisição.
É mais da natureza do entendimento. Uma vez alcançada, não pode
ser perdida. Por outro lado, a consciência varia, é fluida e sofre
transformação de momento a momento. Não se aferre à consciência
e a seu conteúdo. A consciência retida cessa. Tentar a perpetuação
de um momento de discernimento ou de uma explosão de felicidade é
destruir o que se quer preservar. O que vem deve ir. O permanente
está além de todas as idas e vindas. Vá à raiz de toda
experiência, para o sentido de ser. Além do ser e do não ser está
a imensidade do real. Tente-o repetidamente.
P:
Para tentar, é necessário fé.
M:
Primeiro deve existir o desejo. Quando o desejo for forte, a
disposição para tentar virá. Você não precisa da garantia do
sucesso quando o desejo for forte. Você está pronto para apostar.
P:
Desejo forte, fé forte – vêm a ser o mesmo. Estas pessoas não
confiam nem em seus pais ou na sociedade, nem sequer nelas mesmas.
Tudo o que elas tocaram se transformou em cinzas. Dê-lhes uma
experiência genuína, indubitável, além da argumentação da
mente, e elas o seguirão até o fim do mundo.
M: Mas não estou fazendo outra coisa! Incansavelmente levo sua atenção ao fator incontestável – o do ser. O ser não precisa de provas – ele prova todas as outras coisas. Se eles apenas se aprofundarem no fato de ser e descobrirem a vastidão e a glória das quais o ‘Eu sou’ é a porta, cruzando-a e indo além, suas vidas serão cheias de felicidade e de luz. Acredite em mim, o esforço necessário não é nada comparado com as descobertas a que se chega.
M: Mas não estou fazendo outra coisa! Incansavelmente levo sua atenção ao fator incontestável – o do ser. O ser não precisa de provas – ele prova todas as outras coisas. Se eles apenas se aprofundarem no fato de ser e descobrirem a vastidão e a glória das quais o ‘Eu sou’ é a porta, cruzando-a e indo além, suas vidas serão cheias de felicidade e de luz. Acredite em mim, o esforço necessário não é nada comparado com as descobertas a que se chega.
P:
O que você diz está certo. Mas estas pessoas não têm nem
confiança nem paciência. Mesmo um pequeno esforço cansa-as. É
realmente patético vê-las tateando cegamente e, ainda assim,
incapazes de agarrarem a mão que as ajuda. Basicamente são boas
pessoas, mas estão totalmente desnorteadas. Eu lhes falo: Vocês não
podem ter a verdade em seus próprios termos. Devem aceitar as
condições. A isto respondem: Alguns aceitarão as condições e
outros não. A aceitação e a não aceitação são superficiais e
acidentais; a realidade está em tudo; deve haver um caminho que
todos possam seguir – sem condições agregadas.
M: Existe tal caminho, aberto a todos, em cada nível, em cada modo de vida. Todos são conscientes de si mesmos. O aprofundamento e a ampliação da autoconsciência – é o caminho real. Chame-o plena ciência, ou testemunhar, ou apenas atenção – é para todos. Ninguém é imaturo para ele e ninguém pode fracassar.
M: Existe tal caminho, aberto a todos, em cada nível, em cada modo de vida. Todos são conscientes de si mesmos. O aprofundamento e a ampliação da autoconsciência – é o caminho real. Chame-o plena ciência, ou testemunhar, ou apenas atenção – é para todos. Ninguém é imaturo para ele e ninguém pode fracassar.
Mas,
certamente, você não deve estar meramente alerta. Sua atenção
deve incluir a mente também. Testemunhar é antes de tudo
Consciência da consciência e de seus movimentos.
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