Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

domingo, 19 de agosto de 2012

Na Autoconsciência, você aprende sobre Si Mesmo











Pergunta: É nossa experiência repetida que os discípulos causam muito dano a seus Gurus. Eles fazem planos e os realizam sem considerar a vontade do Guru. No final, há apenas preocupação infindável para o Guru e amargura para seus discípulos. 

Maharaj: Sim, isto acontece.
P: O que obriga o Guru a submeter-se a estas indignidades?
M: O Guru basicamente não tem desejos. Ele vê o que acontece, mas não sente a compulsão de interferir. Ele não faz escolhas, não toma decisões. Como pura testemunha, observa o que acontece e permanece não afetado.
P: Mas seu trabalho sofre.
M: No final, a vitória é sempre dele. Ele sabe que se seus discípulos não aprenderem de suas palavras, aprenderão de seus próprios erros. Internamente, ele permanece quieto e silencioso. Ele não tem o sentido de ser uma pessoa separada. Todo universo é dele, incluindo seus discípulos com seus planos mesquinhos. Nada em particular o afeta ou, o que vem a ser o mesmo, todo o universo o afeta em igual medida.
P: Não existe a graça do Guru?
M: Sua graça é constante e universal. Não é dada a um e negada a outro.
P: Como ela me afeta pessoalmente?
M: É pela graça do Guru que sua mente está engajada na busca da verdade, e é pela sua graça que você a achará. A graça trabalha invariavelmente em direção ao bem final. E é para todos.
P: Alguns discípulos estão prontos, maduros, e outros não. O Guru não deve escolher e tomar decisões?
M: O Guru conhece o Supremo e, incansavelmente, empurra o discípulo em direção a ele. O discípulo está cheio de obstáculos, os quais ele deve superar. O Guru não está muito interessado nas superficialidades da vida do discípulo. É como a gravitação. A fruta deve cair –quando não mais é retida.
P: Se o discípulo não conhece a meta, como pode perceber os obstáculos?
M: A meta é mostrada pelo Guru, os obstáculos são descobertos pelo discípulo. O Guru não tem preferências, mas aqueles que têm obstáculos a superar parecem ficar para trás.
   Na realidade, o discípulo não é diferente do Guru. É o mesmo centro sem dimensão de percepção e amor em ação. É apenas sua imaginação e autoidentificação com o imaginado o que o confina e o converte em uma pessoa. O Guru está pouco interessado na pessoa. Sua atenção está no observador interior. É tarefa do observador entender e, através disto, eliminar a pessoa. Enquanto há graça por um lado, deve existir dedicação à tarefa pelo outro.
P: Mas a pessoa não quer ser eliminada.
M: A pessoa é meramente o resultado de um mal-entendido. Na realidade, não existe tal coisa. Sentimentos, pensamentos e ações correm ante o observador em uma sucessão sem fim, deixando traços no cérebro e criando uma ilusão de continuidade. Uma reflexão do observador na mente cria o sentido de ‘Eu’ e a pessoa adquire uma existência aparentemente independente. Na realidade não há nenhuma pessoa, apenas o observador identificando-se com o ‘Eu’ e o ‘meu’. O mestre diz ao observador: você não é isto, não há nada seu nisto, exceto o pequeno ponto do ‘Eu sou’, o qual é a ponte entre o observador e seu sonho. ‘Eu sou isto, eu sou aquilo’ é sonho, enquanto o puro ‘Eu sou’ tem a marca da realidade nele. Você experimentou tantas coisas – tudo deu em nada. Só o sentido ‘Eu sou’ persistiu – inalterado. Permaneça com o imutável entre o mutável, até ser capaz de ir além.
P: Quando isto acontecerá?
M: Acontecerá assim que você remover os obstáculos.
P: Quais obstáculos?
M: O desejo do falso e o temor do verdadeiro. Você, como a pessoa, imagina que o Guru está interessado em você como uma pessoa. Não, de forma alguma. Para ele você é uma perturbação e um obstáculo a ser eliminado. Ele realmente visa sua eliminação como um fator na consciência.
P: Se eu sou eliminado, o que permanece?
M: Nada permanecerá, tudo permanecerá. O sentido de identidade permanecerá, mas não mais a identificação com um corpo particular. O ser – Consciência – amor brilhará em pleno esplendor. A libertação nunca acontece para o personagem; a liberação é sempre do personagem.
P: E não permanece nenhum traço da pessoa?
M: Uma vaga memória permanece, como a memória de um sonho ou da primeira infância. Depois de tudo, o que há para lembrar? Um fluir de eventos, principalmente acidentais e sem significado. Uma seqüência de desejos e medos, e asneiras fúteis. Há qualquer coisa digna de lembrar? A pessoa é apenas uma casca que o aprisiona. Quebre a casca.
P: A quem você pede para quebrar a casca? Quem quebrará a casca?
M: Quebre os laços da memória e da autoidentificação e a casca quebrará por si mesma. Há um centro que transmite realidade a tudo que percebe. Tudo o que você necessita é entender que você é a fonte da realidade, que você dá realidade em vez de obtê-la, que você não necessita de nenhum apoio e nenhuma confirmação. As coisas são como são porque você as aceita como elas são. Pare de aceitá-las, e se dissolverão. Tudo quanto pensa com desejo ou temor aparece diante de você como real. Olhe-o sem desejo ou medo, e ele perderá substância. O prazer e a dor são momentâneos. É mais simples e mais fácil menosprezá-los que agir de acordo com eles.
P: Se todas as coisas acabam, porque aparecem de qualquer modo?
M: A criação está na própria natureza da consciência. A consciência causa as aparências. A realidade está além da consciência.
   P: Enquanto nós somos conscientes das aparências, como não somos conscientes de que essas são meras aparências?
M: A mente encobre totalmente a realidade sem conhecê-la. Para conhecer a natureza da mente você necessita de inteligência, a capacidade de olhar para a mente com uma Consciência silenciosa e imparcial.
P: Se eu sou da natureza da consciência onipenetrante, como podem acontecer-me a ignorância e a ilusão?
M: Nem ignorância nem ilusão aconteceram para você. Descubra o eu ao qual você atribui a ignorância e a ilusão, e sua pergunta será respondida. Você fala como se conhecesse o eu e o visse sob o poder da ignorância e da ilusão. Mas, de fato, você não conhece o eu, nem é consciente da ignorância. Certamente, torne-se consciente – isto o levará para o eu e a compreender que não há nem ignorância nem ilusão nele. É como dizer: se há sol, como pode haver escuridão? Como haverá escuridão debaixo de uma pedra, quão forte seja a luz do sol, assim, na sombra da consciência ‘Eu sou o corpo’, deverão existir ignorância e ilusão.
P: Mas por que veio a existir a consciência corporal?
M: Não pergunte ‘por que’, pergunte ‘como’. Está na natureza da imaginação criativa identificar-se com suas criações. Você pode pará-la a qualquer momento ao desligá-la da atenção. Ou através da investigação.
P: A criação vem antes da investigação?
M: Primeiro você cria um mundo, então o ‘Eu sou’ torna-se uma pessoa que não é feliz por várias razões. Ele sai em busca da felicidade, encontra um Guru que lhe diz: ‘Você não é uma pessoa, descubra quem você é’. Ele faz isto e vai além.
P: Por que ele não o fez no princípio?
M: Não lhe ocorreu. Necessitou que alguém lhe falasse.
P: Isto foi suficiente?
M: Foi suficiente.
P: Por que não funciona no meu caso?
M: Você não confia em mim.
 P: Por que a minha fé é fraca?
M: Os desejos e temores embotaram sua mente. Ela necessita de uma limpeza.
P: Como posso limpar minha mente?
M: Observando-a implacavelmente. A desatenção obscurece, a atenção esclarece.
P: Por que os mestres indianos defendem a inatividade?
M: Muitas das atividades das pessoas não têm valor, se não forem claramente destrutivas. Dominadas pelo desejo e pelo medo, não podem fazer nada bom. Cessar de fazer o mal precede o começo de fazer o bem. Daí a necessidade de parar todas as atividades por um tempo, para investigar os seus impulsos e seus motivos, para ver tudo o que é falso em sua própria vida, para purificar a mente de todo mal, e só então recomeçar o trabalho, começando com seus deveres óbvios. Certamente, se você tiver uma oportunidade de ajudar alguém, sem dúvida, faça isto prontamente também, não o mantenha esperando até que você seja perfeito. Mas não se torne um benfeitor profissional.
P: Não me parece que haja muitos benfeitores entre os discípulos. A maioria dos que encontrei está bastante absorvida em seus próprios conflitos mesquinhos. Não têm coração para os demais.
 
M: Tal egocentrismo é temporário. Seja paciente com tais pessoas. Por muitos anos, eles deram atenção a tudo exceto a si mesmas.  Permita que se voltem para si mesmas, para uma mudança.
P: Quais são os frutos da autoconsciência?
M: Você fica mais inteligente. Na Consciência você aprende. Na autoconsciência você aprende sobre si mesmo. Certamente, você pode apenas aprender o que você não é. Para conhecer o que é, você deve ir além da mente.
P: A Consciência não está além da mente?
M: A Consciência é o ponto no qual a mente se expande além de si mesma para a realidade. Na Consciência você não busca o agradável, mas o que é verdadeiro.
P: Acho que a Consciência produz um estado de silêncio interior, um estado de vazio psíquico.
M: Está bem no momento, mas não é o suficiente. Você tem sentido a vacuidade universal na qual o universo flutua como uma nuvem no céu azul?
P: Senhor, deixe-me primeiro conhecer bem meu próprio espaço interior.
M: Destrua o muro que separa, a ideia ‘eu sou o corpo’, e interno e externo tornar-se-ão um.
P: Devo morrer?
 
M: A destruição física não tem significado. É o apego à vida sensorial que o ata. Se pudesse experimentar inteiramente o vazio interior, a explosão para a totalidade estaria próxima.
P: Minha própria experiência espiritual tem suas estações.  Algumas vezes me sinto glorioso e então, novamente, afundo. Sou como o ascensorista – subindo, descendo, subindo, descendo.
 M: Todas as mudanças na consciência são devidas à ideia ‘Eu sou o corpo’. Despida desta ideia, a mente torna-se estável. Há puro ser, livre de experienciar qualquer coisa em particular. Mas, para compreendê-lo, você deve fazer o que seu mestre lhe falou. O mero escutar, mesmo memorizando, não é o bastante. Se você não luta duramente para aplicar cada palavra do mestre em sua vida diária, não se queixe de que você não fez nenhum progresso. Todo progresso real é irreversível. Os altos e baixos meramente mostram que o ensinamento não foi levado a sério e traduzido em ação, totalmente.
 
P: Outro dia você nos falou que não há karma.  Mesmo assim, vemos que todas as coisas têm uma causa e a soma total de todas as causas pode ser chamada karma.
M: Enquanto você acreditar que é o corpo, você atribuirá causas a tudo. Eu não digo que as coisas não têm causa. Cada coisa tem inumeráveis causas. É como é, porque o mundo é como ele é. Cada causa, em suas ramificações, cobre o universo.
   Quando você compreender que é absolutamente livre para ser o que você consente ser, que você é o que parece ser devido à ignorância ou à indiferença, então você é livre para se revoltar e mudar. Você se permite ser o que não é. Está em busca das causas do ser que você não é! É uma busca fútil. Não há nenhuma causa, mas sua ignorância de seu ser real, o qual é perfeito e além de toda causação. Seja o que for que aconteça, todo o universo será responsável, e você é a origem do universo.
P: Não sei nada sobre ser a causa do universo.
M: Porque não investiga. Inquira, busque em seu interior e saberá.
P: Como pode uma partícula como eu criar o vasto universo?
M: Quando você está infectado com o vírus ‘Eu sou o corpo’, um universo inteiro aparece no ser. Mas quando você está farto dele, você alimenta algumas ideias fantasiosas sobre liberação e segue linhas de ação totalmente fúteis. Você se concentra, medita, tortura sua mente e seu corpo, faz todo tipo de coisas desnecessárias, mas perde o essencial que é a eliminação da pessoa.

P: No princípio, podemos ter que orar e meditar por algum tempo, antes que estejamos prontos para a autoinvestigação.
M: Se você assim acredita, continue. Para mim, todo atraso é um desperdício de tempo. Você pode omitir toda a preparação e ir diretamente para a busca interior final. De todas as Iogas, esta é a mais simples e a mais curta.





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