Blog da Editora Advaita com textos de dialogos com Sri Nisargadatta Maharaj e outros Mestres como Sri Ramana Maharshi, Jean Klein, Ramesh Balsekar, Tony Parsons, Karl Renz e outros. Não-dualidade. Para encomendar o livro "Eu Sou Aquilo" Tat Twam Asi - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj" escrever para editora.advaita@gmail.com

domingo, 22 de julho de 2012

A vida, um sonho vivente










Uma vez que se tenha uma clara apercepção disto, não se pode não entender que a nossa idéia de que ‘vivemos nossas vidas’ é uma brincadeira, pois a idéia de viver nossas vidas é baseada na crença errada de que tudo o que fazemos é um ato de nossa vontade. Quem poderia exercitar esta vontade quando nós justamente agora nos apercebemos que não há nenhuma entidade para exercitá-la? ‘Viver’ em si não é, na realidade, outra coisa que o funcionamento da consciência através de milhões de formas físicas, tomadas erradamente como vida individual.
Maharaj também explica que esta apercepção básica comporta o entendimento de que a vida é apenas um sonho vivente. Neste ponto, deveria estar claro que o que se vê, ouve, experimenta, cheira ou toca é percebido sensorialmente, e que esta percepção é, de fato, simplesmente uma cognição na consciência – na verdade, a entidade cujos sentidos percebem é, em si mesma, meramente uma aparência na consciência de um ‘outro’ que a percebe como um objeto! Assim, os objetos percebidos equivocadamente como entidades na consciência de outro não sendo entidades autônomas, o que realmente acontece é que não há nenhum percebedor como tal, mas apenas o perceber de objetos conceituais movendo-se no espaço conceitual, em uma duração também conceitual. Não são todos estes, claramente, aspectos do sonho que experimentamos quando dormimos? Quando o que sonha acorda, o sonhar termina, e aquele que despertou não está mais interessado nas ‘outras’ entidades do sonho. Similarmente, no sonho vivente, aquele que desperta (que compreende que nada perceptível pelos sentidos, incluindo a ‘entidade’ que pensa ser, pode ser outra coisa a não ser uma mera aparência na consciência) não se ocupa mais das outras imagens do sonho vivente. O desperto compreende que ele é a Absoluta Subjetividade incondicionada na qual o movimento da consciência deu início, espontaneamente, ao sonho da vida, sem causa ou razão aparente, e apenas ‘vive’ distante do sonho até o fim do tempo designado, quando, novamente, a consciência se une, também de forma espontânea, à Subjetividade Absoluta.


De: "Sinais do Absoluto" - Ensinamentos de Sri Nisargadatta Maharaj.    (Ramesh Balsekar)


 

sábado, 21 de julho de 2012

A pseudo-entidade






"Não obstante, para ver claramente como a pseudo-entidade, ou o ego (que se supõe ser a causa e o objeto da suposta escravidão), surge, é necessário entender o processo conceitual da manifestação. O que somos Absolutamente, numenalmente, é unicidade-absoluto-subjetividade sem o mais leve toque de objetividade. A única forma em que isto-que-somos pode se manifestar é através do processo da dualidade, cujo começo é o movimento da consciência, o sentido de ‘eu sou’. Este processo de manifestação-objetivação, que estava totalmente ausente até agora, implica uma divisão em um sujeito que percebe e um objeto que é percebido; conhecedor e conhecido.
O númeno – pura subjetividade – deve permanecer sempre como o único sujeito. Portanto, os supostos conhecedor e conhecido são ambos objetos na consciência. Este é o fator essencial a ser lembrado. É apenas na consciência que este processo pode acontecer. Toda coisa imaginável – todo tipo de fenômeno – que nossos sentidos percebam e nossa mente interprete é uma aparição em nossa consciência. Cada um de nós existe apenas como um objeto, uma aparição na consciência de alguma outra pessoa. O conhecedor e o conhecido são objetos na consciência, mas (e este é o ponto importante no que diz respeito à pseudo-entidade) o que conhece o objeto presume que é o sujeito da cognição de outros objetos, em um mundo externo a si mesmo, e este sujeito que conhece considera sua pseudo-subjetividade como constituinte de uma entidade independente e autônoma – um ‘eu’ – com o poder de ação voluntária!
O princípio da dualidade, que começa com o sentido ‘eu sou’, e sobre o qual está baseada toda a manifestação fenomênica, é levado um passo além quando a pseudo-entidade, em seu papel como o pseudo-sujeito, inicia o processo de raciocínio ao comparar contrapartidas interdependentes e opostas (tais como bom e mau, puro e impuro, mérito e pecado, presença e ausência, grande e pequeno, etc.), e, depois disto, discrimina entre elas. Isto constitui o processo de concepção.
À parte desta divisão de sujeito e objeto, o processo da manifestação fenomênica depende do conceito básico de espaço e tempo. Na ausência do conceito de ‘espaço’, nenhum objeto poderia tornar-se visível com seu volume tridimensional; similarmente, na ausência do conceito relacionado de ‘tempo’, o objeto tridimensional não poderia ser percebido – nem qualquer movimento poderia ser medido – sem a duração necessária para fazer perceptível o objeto. O processo da manifestação fenomênica, portanto, acontece no espaço-tempo conceitual, no qual os objetos tornam-se aparências na consciência, percebidas e conhecidas pela consciência, através de um processo de concepção cuja base é a divisão em um pseudo-sujeito que percebe e um objeto percebido. O resultado da identificação com o elemento que conhece no processo de manifestação é a concepção da pseudopersonalidade com escolha de ação pessoal. E esta é toda a base da ‘escravidão’ ilusória.
Entenda todo o processo da manifestação fenomênica, diz Maharaj, não em partes ou fragmentos, mas em um momento de apercepção. O Absoluto, o númeno é o aspecto não-manifestado, e o fenômeno, o aspecto manifestado do que somos. Eles não são diferentes. Uma símile grosseira seria a substância e a sombra, exceto que o manifestado seria a sombra do não-manifesto sem forma! O númeno Absoluto é atemporal, ilimitado, não perceptível aos sentidos; os fenômenos estão limitados pelo tempo, com formas limitadas e perceptíveis pelos sentidos. Númeno é o que nós somos; fenômenos são que parecemos ser como objetos separados na consciência. A identificação da unicidade (ou o sujeito) que nós somos com a separação em dualidade (ou o objeto) que nós parecemos ser constitui ‘escravidão’, e a desidentificação (desta identificação) constitui ‘liberação’. Mas ‘escravidão’ e ‘liberação’ são ilusórias, pois não existe tal entidade que está na escravidão e que deseja a libertação; a entidade é apenas um conceito que surgiu da identificação da consciência com um objeto visível que é, simplesmente, uma aparição na consciência!"


De: "Sinais do Absoluto" - Ensinamentos de Sri Nisargadatta Maharaj.    (Ramesh Balsekar)







 

A questão do renascimento









Maharaj rejeita de imediato a idéia do renascimento ou reencarnação, e a base de tal rejeição é tão simples que nos esmaga: a entidade que se supõe renascer não existe, exceto como um mero conceito! Como poderia um conceito renascer?
Maharaj, em toda sua inocência, pergunta ao protagonista do renascimento: “Por favor, quero saber quem é este que renasceria?” O corpo ‘morre’ e, depois da morte, é exterminado – enterrado ou cremado – tão rapidamente quanto possível. O corpo, em outras palavras, foi irreparável, irremediável e irrevogavelmente destruído. Aquele corpo, portanto, o qual era uma coisa objetiva, não pode renascer. Como, então, poderia uma coisa não objetiva como a força vital (a respiração), a qual, com a morte do corpo, fundiu-se com o ar exterior, ou a consciência que se fundiu com a Consciência Impessoal, renascer também?
Talvez, diz Maharaj, você dirá que a entidade envolvida renascerá. Mas isto seria totalmente ridículo. Você sabe que a ‘entidade’ é apenas um conceito, uma alucinação que surge quando a consciência se identifica erradamente com uma forma particular.
Como surgiu a idéia do renascimento? Ela foi concebida, talvez, como algum tipo de hipótese de trabalho para satisfazer as pessoas mais simples que não são inteligentes o bastante para pensar além dos parâmetros do mundo manifesto.


De: "Sinais do Absoluto" 




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